domingo, 21 de outubro de 2012

Erros Fundamentais do Acertado Bike Rio

Há duas semanas foram inauguradas as duas últimas estações que faltavam para completar as 60 prometidas do sistema Bike Rio, foram as estações Cinelândia e Praça São Conrado.

Vale lembrar que o sistema Bike Rio possui erros fundamentais em sua concepção e que o seu sucesso deve-se tão-somente ao amor que o carioca possui por bicicletas e a sua enorme paciência e tolerância com maus serviços prestados. Fato.

Erros fundamentais que o sistema Bike Rio possui:

1. Estações distantes: O principal erro do sistema Bike Rio está na distância entre as estações, cada uma em média 1km de distância da outra, quando o correto num sistema desses é que as estações não estejam mais de 300m de distância uma das outras havendo pelo menos, 3 estações num raio de 300m, ou 8 estações por km².

Essas distâncias visam trazer segurança para o usuário de 3 formas:

a) se a estação estiver vazia, ele pode facilmente se dirigir a uma próxima que não esteja e aí conseguir a bicicleta.

b) se a estação estiver lotada, ele se dirige a outra próxima para deixar a bicicleta, sem que isso lhe causa grandes transtornos;

c) se um pneu furar, houver algum acidente/avaria, qualquer que seja a natureza, deve haver uma estação próxima durante o seu trajeto de forma a que o usuário não seja obrigado a completar um longo trajeto a pé.

Quem usa o sistema Bike Rio diariamente já deve ter passado por algum desses problemas e só continuou usando o sistema porque é teimoso, gosta muito de bike e não considera esses transtornos grandes coisas diante da maravilha que é se locomover por bike em vez de pegar um ônibus e ficar no engarrafamento.

2. Falta de comunicação no sistema - A Tecnologia da Informação empregada no sistema Bike Rio é de ponta, isso é notório, o usuário leva a própria interface com o sistema (celular), e diretamente, se conexão direta entre ele e a estação, a bicicleta é liberada, tudo sem fios, econômico e com o uso de energia solar nas estações, sistema bem sustentável. Porém, eis que inacreditavelmente, todos os dias, durante todos o dia, pelo menos 10% das estações (6) estão simultaneamente inoperantes por falta da comunicação.

Muitas vezes a falta de comunicação ocorre na própria estação. A bicicleta está fisicamente estacionada, porém o sistema não reconhece que ali há uma bicicleta (não se trata de uma bicicleta indisponível por alguma razão, trata-se de uma bicicleta "inexistente" no sistema!) O usuário liga para a central, avisa que ali há uma bicicleta, mas a central não a "enxerga"!

3. Estações pequenas - O sistema Bike Rio possui estações com 12 ou 14 posições, o que significa que algumas estações rapidamente ficarão vazias e outras rapidamente ficarão cheias, e considerando a distância entre elas, o serviço estará indisponível par ao usuário.
Dever-se-ia ter a possiblidade de ampliar o número de vagas de acordo com a estação. As estações da Praça XV, Antero de Quental, Santa Clara, por exemplo, são estações muitíssimo movimentadas e estão constantemente cheias ou vazias conforme o fluxo e contra-fluxo de usuários.

Em resposta a este problema, a Serttel, que administra o sistema, disse que não poderia resolve-lo, já que, contratualmente, a prefeitura liberou apenas estes espaços e, por conta disso, aumentar o número de vagas significa ocupar mais espaço público, o que gera uma burocracia tremenda. Quem perde é o usuário, que cai no erro 1 acima.


4. Número de Bicicletas - A promessa é de que o número de bicicletas chegaria a 600 quando o sistema estivesse completo. Ocorre que há duas semanas o sistema está completo mas o número de bicicletas, segundo contagem feita diariamente às 01:00 (horário em que todas as bicicletas deveriam estar estacionadas nas estações, já que o sistema não está funcionando), não passa de 350!!!!

Sim, 350!!! Ou seja, pouco mais da metade do prometido está em circulação. Podemos aí dar uma tolerância de 20% sobre este numero, para mais, considerando as bicicletas que estariam recolhidas na oficina. O fato é este o número de bicicletas atualmente circulando no sistema Bike Rio.

Para quem quiser conferir, neste link há uma contagem direta das bikes não só do sistema Bike Rio mas também de diversos outros pelo mundo, inclusive o londrino Barclays e o parisiense Vélib' http://bikes.oobrien.com/rio/

É natural que, com o reduzido número de vagas por estações, quanto mais bicicletas no sistema, maiores as chances das estações ficarem lotadas, porém, considerando a enorme taxa de utilização e a quantidade absurda de estações vazias, veja a imagem abaixo:


Conclui-se, por óbvio, que há uma escassez de bicicletas no sistema, e que a introdução das 250 faltantes traria melhorias para os usuários.

5  Distribuição política das estações - O sistema possui 60 estações sendo que duas no bairro de São Conrado e 3 em Madureira.

Quanto ao bairro de São Conrado, para quem não sabe, este bairro encontra-se atualmente isolado do resto da Zona Sul para as bicicletas. Os dois caminhos que ligam este bairro ao resto da Zona Sul são proibitivos para ciclistas: Tunel Zuzu Angel e Av. Niemeyer.

A Estação Largo do Boiadeiro foi inaugurada nos pés da favela da Rocinha, assim que houve a ocupação do local pelas forças de pacificação, e sairia bem na foto da prefeitura a inauguração da estação ali, para ar aos moradores a idéia de inclusão. Uma decisão meramente política e nem um pouco técnica, já que, sendo a única estação inaugurada no bairro, permitira aos usuários andarem em círculo apenas.

As 3 estações do Parque Madureira foi a mesma coisa, estão a 30km de distância do resto do sistema, e atendem SOMENTE aos usuários do parque, para que estes andem em círculo e a lazer, fugindo totalmente da proposta de mobilidade do sistema.

Essas decisões políticas, em que pese soarem positivas na opinião pública, são atécnicas e geram mais transtornos logísticos e problemas para os usuários do que a prometida solução de mobilidade, fim primordial a que se destina o sistema.

Esses foram os erros fundamentais, todos os outros problemas seriam derivados e secundários e não estão diretamente ligados à estrutura do sistema, e sim, falhas no nível de serviço, como a falta de manutenção, cobranças indevidas, etc.


Deve-se ter em mente que o Bike Rio é um sistema público de transporte, e como tal, deve estar sempre disponível para os usuários, e esta disponibilidade segura (ou seja, o cara saber que pode contar com o sistema) se consegue com: 8 estações p/km², estações com tamanhos diversos de acordo com a demanda, e número suficiente de bikes conforme a demanda, e principalmente, flexibilização do sistema, a fim de que a concessionária possa promover as adequações de acordo com a demanda e as características da região, conforme o sistema começa a operar.

Evidente que num primeiro momento não dá para se prever os aspectos de utilização, como as rotas mais utilizadas, estações mais ou menos movimentadas, porém, o sistema vai completar 1 ano na próxima semana, e é natural que esses dados já existam.

Vamos cobrar pela necessária expansão e que isso se dê de forma técnica e não política.

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Brasil e Movimento

Inaugurados nos dia 22 e 29 de setembro, respectivamente, os sistemas bike share de Campinas e São Caetano do Sul.

A empresa vencedora da licitação para explorar o sistema público de aluguel de bicicleta destas cidades é a mesma que opera o sistema Bicing de Barcelona, a Movement Barcelona, que aqui no Brasil se chama Brasil e Movimento.

Em Campinas o projeto se chama Viva Bike e já conta com 4 estações instaladas, duas no Taquaral - Portão 1 (Bonde) e no Portão 7 (Ginásio), uma na Unicamp e outra na Praça 31 de Dezembro no bairro de Barão Geraldo. Até o final do mês de outubro são prometidas mais 12 estações em 4 localidades: Amarais, Aparecidinha, Sousas e Terminal Central, totalizando 180 bicicletas no sistema, que funciona diariamente das 5hs à meia-noite - atualmente os sistemas Bike-Rio, Bike-Sampa e Bike-Poa funcionam das 6 às 22hs. 


Projeto Viva Bike Campinas.

A promessa é de que o sistema tenha 6 mil bicicletas quando estiver totalmente instalado!

Em São Caetano do Sul a mesma empresa também ganhou a licitação e vai operar o sistema batizado de SANCA Bike! Que começou com duas estações, uma na Praça dos Imigrantes e outra no Parque Santa Maria, conforme já noticiado aqui no Blog.



Dos sistemas existentes atualmente no país, os maiores são: Bike Rio (60 estações), Bike Sampa (35 estações) Integra Bike Sorocaba (19 estações) - todos operados pela Serttel. Com isso, as cidades de Campinas e São Caetano do Sul, que inauguram sistemas operados pela Brasil e Movimento representam os primeiros "concorrentes" para um sistema novo e até então operado apenas pela corajosa e pioneira Serttel.

Vale lembrar que todos esses sistemas são de 3ª Geração, ou seja, utilizam a alta tecnologia da informação, seguindo os mesmos moldes do parisiense Vélib', do catalão Bicing, do londrino Barclays, entre outros já falados aqui no blog, e que apenas nas cidades de São Paulo e Rio de Janeiro são beneficiados pelo patrocínio do Banco Itaú.