sábado, 8 de setembro de 2012

O Sucesso do Bike Rio e a Relação Oferta x Demanda

Que o sistema Bike Rio é um sucesso, isso ninguém tem dúvidas.
A forte adesão do carioca e visitantes ao sistema é visível diariamente nas ruas da cidade: um verdadeiro enxame "laranjinhas" circulando pela zona sul!

Agora imagine em um final de semana ensolarado? Como fazer para conseguir uma "laranjinha" para curtir as áreas de lazer da cidade? Tem que ter muita paciência!


Status das estações do Bike Rio em 08/09/2012 às 15:00. Em branco, as estações totalmente vazias, em laranja as estações ativas com pelo menos 1 bicicleta; e em cinza as estações em manutenção no momento.

Da imagem acima se verifica que o serviço encontra-se indisponível na maioria e suas estações pura e simplesmente pela falta de bicicletas, já que a grande maioria está em uso no momento.

É necessário estabelecer-se uma boa relação entre oferta e demanda a fim de que o serviço não se torne indisponível, pois, independente de seu uso ser ou não para fins de lazer, tratando-se de um serviço público, é fundamental que ele esteja disponível durante o seu horário de funcionamento.

A simples análise das figura acima indica que não há nenhuma estação lotada em toda a região da zona sul, e que a maioria delas encontra-se vazia, e as que não estão vazias, muitas delas contam com apenas uma única bicicleta, o que impossibilita, inclusive, o remanejamento de bicicletas de estações mais cheias para as mais vazias, já que todas estão praticamente vazias!


Estação Siqueira Campos, localizada junto à estação do metrô, com apenas uma única bicicleta disponível.

Este problema da pouca oferta diante de uma forte demanda deve ser solucionado oferecendo não apenas mais bicicletas ao sistema, mas também, ampliando-se o número de vagas nas estações mais movimentadas.

Atualmente o sistema Bike Rio possui estações com 12 ou 14 vagas. No caso da estação acima, Siqueira Campos, que é uma estação de interação intermodal, já que instalada junto ao metrô, precisa essencialmente possuir um número de vagas compatível com o potencial número de usuários que chegam de metrô àquela estação e que terão como destino final outro local onde haja uma estação Bike Rio próxima.

Neste sentido, há apenas outras 3 estações elegíveis próximas (Dias da Rocha, Santa Clara e Serzedelo Correia), já que as demais no bairro de Copacabana estão próximas a outras estações do metrô, logo, não atendem a quem vai utilizar a estação Siqueira Campos especificamente saindo do metrô.

Caso houvesse mais estações num raio de 50m a 300m entre as outras 3 estações (Dias da Rocha, Santa Clara e Serzedelo Correia), o número de usuários em potencial saltaria, pois o sistema automaticamente estaria disponível para um número maior de potenciais usuários.

Não basta, no entanto, oferecer muitas estações, deve-se atentar para a demanda dos atuais usuários, que são muitos, e tendem a se multiplicar a cada dia, e preparar o sistema para o futuro, ampliando a oferta de bicicletas, na mesma proporção em que se ampliar o número de estações, bem como o número de vagas disponíveis em cada uma delas.

quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Porto Alegre implanta sistema de aluguel de bicicletas

Depois do Rio e de São Paulo, Porto Alegre anuncia a implantação do seu sistema público de aluguel de bicicletas, que começa já a funcionar no próximo dia 22 de setembro, Dia Mundial Sem Carro.



A empresa que implantará o sistema é a mesma que opera o Bike Rio e o Bike Sampa, Serttel.

O plano para Porto Alegre é o menos ambicioso se comparado com os do Rio e de São Paulo e consiste na instalação de 40 estações com 6 a 10 vagas, e 400 bicicletas ao todo, a serem entregues até março de 2013.

O serviço começará pelo Centro da Cidade a partir de 22 de setembro, data marcada pelo Dia Mundial Sem Carro, com 5 estações, instaladas no Mercado Público, Casa de Cultura Mário Quintana, Usina do Gasômetro, Praça da Matriz e Câmara de Vereadores de Porto Alegre.

Até 30 de outubro serão entregues mais 10 estações e em 20 de dezembro mais 20 estações. As demais estão previstas para março e abril de 2013. A Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e a Pontifícia Universidade Católica do RS (PUCRS) também receberão estações.

Em princípio o sistema não conta com um patrocinador, e deve ser custeado pela própria prefeitura de Porto Alegre, através da Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC).

Para o usuário, as tarifas serão as mesmas praticadas no Rio de Janeiro e em São Paulo, passes mensal e diário no valor de R$ 10,00 e R$ 5,00, respectivamente, sendo que não serão cobradas taxas adicionais caso a bicicleta não seja entregue fora do prazo.

Fonte: Sul 21

Algumas críticas minhas ao modelo adotado em Porto Alegre:

Esse modelo de Porto Alegre pode estar fadado ao fracasso pela sua pouca abrangência. O sistema para funcionar precisa ser amplo e estar disponível para as pessoas não apenas nos seus locais de origem e destino, mas também durante o trajeto. Caso contrário, apenas poucos usuários corajosos e eventuais se arriscarão a usar um serviço que não é abrangente suficiente para lhe oferecer uma disponibilidade segura.

Mas a pior falha, e que pode arruinar totalmente o sistema, no entanto, está no fato de não haver cobrança extra para usuários que utilizam a bicicleta por mais de 1 hora (como no caso do Rio - em São Paulo, Londres e Paris são 30 minutos). Isso abre brecha para que o usuário simplesmente fique com a bicicleta por tempo indeterminado, retirando-a do ciclo de compartilhamento, o que ocasionará, assim, a indisponibilidade das bicicletas.

A idéia do sistema é que o usuário perceba estar usufruindo de um bem público que deve ser compartilhado e preservado, e na medida em que ele pode dispor da bicicleta durante o tempo que ele quiser, sem a cobrança de taxa extra, isso pode passar a idéia errada de que a bicicleta não pertence a ninguém, portanto, estará incentivando a sua retirada do ciclo de compartilhamento e até mesmo a depredação e o vandalismo.

É um erro fatal e esperamos que seja revisto, pois é fácil verificar que se trata de uma tentativa da Prefeitura  de atrair mais usuários ao sistema, mas que pode ser um verdadeiro tiro no pé, pois é justamente o que também poderá levá-lo à ruína.

Um outro equívoco menor, mas que é facilmente sanável é o pequeno número de vagas nas estações, 6 a 10 é um número muito reduzido em qualquer escala, e nas estações mais movimentadas representará um problema logístico para empresa operadora, que deverá fazer constantes reposições de bikes. O ideal é ter um número entre 15 e 20 vagas nas estações mais movimentadas e 10 a 15 nas menos movimentadas e deixar estes números sempre em aberto para adaptações de acordo com a demanda de cada local específico, o que se verificará apenas na prática.


Projeto Citibike Nova York

O projeto Citibike de Nova York é um dos mais aguardados pois a sua promessa é realmente de revolucionar a mobilidade na cidade!

Um simples vislumbre no mapa dos locais onde serão instaladas as estações já dá uma dimensão do projeto, vejam:



Observem que apenas o Centro de Manhattan, Brooklyn e Queens estão abrangidos, e que há praticamente uma estação em cada esquina. O próprio Central Park não está provido com muitas estações o que deixa um recado claro para as pessoas: Trata-se de uso da bicicleta para fins de transporte e não de lazer!

As lições que tiramos com esta abrangência toda são as seguintes:

1. Um transporte público precisa estar disponível para as pessoas;

2. Disponibilidade significa dizer que do ponto onde a pessoa está até o ponto em que ela pretende chegar, o sistema está à sua disposição.

3. Se no ponto de origem a estação mais próxima não está disponível (em manutenção ou não há bikes) a estação mais próxima está logo ali, no outro quarteirão, logo, o sistema está disponível - idem quanto ao ponto de destino;

4. Se no trajeto houver algum problema (pneu furado; corrente solta, dano à bicicleta, acidente leve, etc.) há sempre uma bicicleta próxima no percurso, não havendo a necessidade de longos deslocamentos a pé até a estação mais próxima.

Com todos esses detalhes fundamentais, verificamos que para o sistema de transporte público por bicicletas ser seguro, é necessário que haja realmente uma rede de estações muito abrangente.

Com tantas estações e tantas bicicletas circulando numa área limitada, a bicicleta ganha, portanto, uma enorme visibilidade por todos que circulam na cidade, tornando evidente e urgente a necessidade de se criar toda uma infraestrutura de segurança e suporte cicloviário na cidade.

O Citibike pretende, na sua primeira fase, instalar 600 estações e dispor 10 mil bicicletas, nesta área marcada no mapa.

Fonte:
http://a841-tfpweb.nyc.gov/bikeshare/station-map/
www.citibikenyc.com


quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Como surgiram as Bicicletas Públicas

A partir de 2008 inúmeros sistemas de Bicicletas Públicas vêm sendo implementados pelo mundo, mas o sistema, em si não é novidade. Já existe desde a década de 1960, onde foi primeiramente implantada na Holanda, na cidade de Amsterdã, em Hoge Veluwe, que é um parque que possui um museu de história natural, o sistema foi chamado de White Bikes (bicicletas brancas). Na década de 70 sistema similar foi introduzido na cidade de La Rochelle, na França. Mais tarde, em 1995, a cidade de Copenhagen, na Dinamarca, implantou também o seu sistema. Em todos eles não havia muita tecnologia envolvida, eram simples e rudimentares. 

O de Amsterdã, chamado de Bicicletas Brancas (White Bikes) era informal e não contava com o apoio da Prefeitura, não tinha estações fixas e não exigia cadastro dos usuários. Logo teve todas as bicicletas furtadas. Esse sistema pioneiro foi a primeira geração das bicicletas públicas.
Photo: Cor Jaring
Bicicletas Brancas, Amsterdã, década de 1960.

A segunda geração surgiu em seguida, implementado em Copenhagen na década de 1970, também em escala pequena, possuia como caracteristica principal a necessidade de se depositar uma moeda para retirar a bicicleta, que era devolvida quando da entrega. Este sistema teve alto índice de furtos no início, e posteriormente foi adotando um desenho exclusivo para as bicicletas, como, por exemplo, pneus sólidos de borracha, e também pelo controle social, a população gostava das bicicletas e zelava por elas, logo, não tinha muito valor no mercado negro, o que acabou diminuindo os índices de furtos.


Sistema de Segunda Geração, Depósito de Moedas, Helsinki, Finlandia.


A Terceira Geração, assim chamado o sistema conhecido atualmente, surgiu no final da década de 1990, com o advento da Tecnologia da Informação, que permitia o controle individual de cada bicicleta e sua distribuição pelas estações, de forma remota.

Mas a grande revolução deste sistema está no fato dele exigir um cadastro prévio que dará direito ao usuário a um passe eletrônico, que lhe permitirá retirar a bicicleta em qualquer estação e devolve-la em qualquer estação, havendo todo um controle do tempo de uso.


Estação Velov Lyon, 2005


Existem diversos tipos de passe eletrônico nos sistemas de Terceira Geração, como cartões com chip (basta aproximar o cartão da catraca para liberar a bicicleta), Cartão com número (Basta digitar o número do passe na catraca), Telefone (Sistema adotado no Bike Rio e Bike Sampa, onde o passe está vinculado a um número de telefone móvel, bastando fazer uma chamada deste aparelho e um sistema automático identifica o passe e permite a liberação da bicicleta), sistema similar também é utilizado em Stuttgart, na Alemanha; Token (basta introduzir a "chave" na catraca para liberar a bicicleta - utilizado pelo sistema Barclays de Londres).

Catraca do Velib, com suporte para Smart Card.


File:Barclays Cycle Hire dock lock.jpg
Catraca do Barclays Cycle Hire, de Londres, com Token.

Enfim, o diferencial da Terceira Geração está na alta tecnologia adotada, o que permite a gestão de um sistema complexo, com inúmeras bicicletas, e elevadíssimo controle de dados. Atualmente, o maior sistema em funcionamento é o da cidade de Hangzhou, na China, que possui mais de 70 mil bicicletas.

O modelo de maior sucesso e que vem sendo implementado no Brasil e no resto do mundo, surgiu da evolução do sistema lançado em Lyon, na França, em 2005, chamado "Velo'v", e apesar de ser um sistema de Terceira Geração, tem como um diferencial a adoção da publicidade de forma a custear e viabilizar a implantação deste sistema, que, pela sua altíssima tecnologia envolvida, possui custos elevados, o que necessitaria subsídio pelo Governo, pois os valores cobrados dos usuário seriam tão elevados que não seriam atraentes ao público.
Neste sistema, a inovação está no fato de uma empresa  de publicidade oferecer à prefeitura uma frota de bicicletas que estariam espalhadas em diferentes pontos da cidade e poderiam ser alugadas por qualquer pessoa a preços bem baratos (subsidiados pelo patrocinador/anunciante). Em troca, a prefeitura cedeu à empresa espaços públicos de mobiliário urbano (traseiras e pontos de ônibus, por exemplo) para serem usados como mídia publicitária. A empresa, então, vendeu esses espaços aos seus clientes, para a colocação de anúncios publicitários, e saiu no lucro.
O sistema de Lyon deu tão certo que foi copiado por diversas outras sidades, sendo que em 2007, em Paris, foi criado o sistema Velib e, pela primeira vez, foi implantado em larga escala, abrangendo toda a região central da cidade, com mais de 1400 estações e 20 mil bicicletas.
Londres em 2010, implantou seu sistema chamado Barclay’s Cycle Hire (mas acabou mesmo ficando apelidada  localmente de “Bori’s bikes”, em referência ao prefeito Boris Johnson, que empenhou-se de forma fervorosa no seu lançamento - Isso se deveu também ao fato de Barclays ser o nome do Banco que patrocina o sistema na cidade, o que gerou muita controvérsia entre a população, pois o próprio patrocinador dá nome ao sistema, seria o equivalente aqui de chamar o Bike Rio e o Bike Sampa, simplesmente Itaú - bem antipático)
Apesar do empenho do prefeito e ciclista Boris Johnson, o sistema somente foi implantado graças a um estudo elaborado em 2008, que mostrava a possibilidade técnica da inserção das bicicletas públicas de aluguel na mobilidade urbana por seu antecessor, Key Livingstone. Aqui segue o documento. - em inglês - um verdadeiro tratado sobre as questões mais fundamentais que devem ser observadas quanto à logística da implantação do sistema nas grandes cidades. Este estudo feito em Londres se aplica em qualquer cidade e nenhuma delas deveria se aventurar a implantar um sistema público de aluguel de bicicletas sem antes pelo menos dar uma folheada neste documento.













Sistema Barclays, de Londres
Esses sistemas de aluguel envolveram uma relação de troca: as empresas receberiam espaços públicos onde poderiam colocar anúncios publicitários e, em contrapartida, entregariam à população um sistema de aluguel de bicicletas inteligente e barato (Em Lyon, Paris e Londres, a primeira meia hora de aluguel é gratuita e as horas seguintes não passam de R$ 5 – sendo que há planos anuais que deixam o sistema ainda mais barato). Em cada estação há um mapa com as estações mais próximas e a infra-estrutura cicloviária das redondezas.
A bicicleta pode ser retirada e devolvida em pontos diferentes – o que viabiliza seu uso como meio de transporte.
No Brasil somente no dia 28 de outubro de 2011, na cidade do Rio de Janeiro, foi inaugurado um sistema seguindo este modelo, batizado de Bike Rio. Atualmente o sistema conta com 58 estações, e aproximadamente 500 bicicletas disponíveis, espalhadas pelos bairros da Zona Sul carioca e uma única estação no Centro da Cidade.


Bike Rio
Mais ambicioso que o Bike Rio, o Bike Sampa foi inaugurado em 24 de maio de 2012, e prevê a instalação de 100 estações e 1.000 bicicletas até o final deste ano na capital paulista, iniciando nos bairros da Vila Mariana e Jardim Paulista, contando atualmente com 25 estações em funcionamento e 250 bicicletas disponíveis.


Bike Rio - Aplicativo para Smartphone. Liberação direta a partir do telefone do usuário, sem conexão física com a estação.
O sistema, altamente difundido na Europa, somente a partir do ano de 2011 começou a ser adotado nas américas, e nos Estados Unidos vem sendo amplamente adotado em diversas cidades, estando previsto para ser inaugurado em março de 2013 na cidade de Nova York o sistema CitiBike, com 413 estações e 6.000 bicicletas, cobrindo as regiões de Manhattan, Brooklyn e Queens - um modelo totalmente evoluído, baseado no sistema Barclays, de Londres.
Não há mais dúvidas, tanto entre especialistas, quanto entre os cidadãos de qualquer lugar do mundo, que o conceito de mobilidade urbana baseado no transporte individual motorizado é absolutamente falido e inviável, destruindo as cidades e a qualidade de vida de seus cidadãos com polução e engarrafamentos intermináveis. E o sistema de bicicletas públicas surge como uma alternativa de transporte público viável para deslocamentos de curta distância, em áreas de grande adensamento urbano, servindo como um excelente alimentador para os demais modais de transporte de massa.
Neste blog serão publicadas novidades acerca destes sistemas públicos de aluguel de bicicletas pelo mundo, dando especial enfoque ao Brasil, e abordar questões práticas do dia-a-dia dos usuários destes sistemas nas cidades onde ele já existe, na tentativa de promover a sua constante melhora e expansão dentro das cidades já implantadas e sua implantação nas cidades aonde o sistema é potencialmente viável.

Fonte Bibliográfica:
Zé Lobo e Jeroen Buis; Interface For Cycling Expertise; i-ce@cycling.nl www.cycling.nl
Transporte Ativo - www.ta.org.br

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